Paulo Camelo

Poesia é sentimento. O resto é momento.

Textos

Alumbramento
Já nos disse o saudoso médico poeta e filósofo Guilherme Abath que o poeta inicialmente escreve mais para si que para o universo de seus leitores. Assim vejo este livro-oficina que me vem às mãos, “A reconquista do Paraíso”, talhado em seu formato com as inspirações (sonhos ou alucinações), de autoria do médico neurocirurgião Luiz Coutinho. Luiz, que até então eu conhecia apenas pela internet, e, a meu convite, se apresentou magnanimamente frente a seus colegas na Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, chega-me com um livro feito, homogêneo na sua heterogeneidade, e ainda contaminado de albores poéticos, diamante bruto cuja potencialidade os joalheiros sentem ao primeiro toque.
Desconstruindo os poemas de sua lavra e desmistificando o aforismo de que poesia não se explica, ele traz, ao final, explicações para várias passagens em seus poemas, que, plenos de poesia, têm no âmago vocabulário enciclopédico que deixa muitos (não só os leigos) necessitados de tais consultas.
No alvorecer poético, os poemas de Luiz Coutinho, como sói acontecer com qualquer poema, que se compõe de corpo e alma, assim se apresentam, porém hipertrofiam a alma, muitas vezes sacrificando o corpo. São, pois, mais anímicos que corporais.
A heterogeneidade também chama atenção no conjunto: desde sonetos (que não se apegam ao ritmo ortodoxo) aos poemas de versos livres, às vezes pentassílabos, às vezes bárbaros, muitas vezes com enjambements, outras vezes enveredando na prosa vertical, até chegar a um híbrido (diria eu) de épico e cordel, todo em oitavas camonianas quanto à rima, porém não ortodoxos quanto ao ritmo, que empresta o título ao conjunto. Pleno de alma, não poderia esquecer as loas, que levam o produto de sua verve em primeira instância aos amores que o cercam.
Ainda lembrando Guilherme Abath, quando disse que o livro pertence de início muito mais ao poeta que o gerou, “...depois as coisas se invertem. Sua sorte é imprevisível como a de um raio de luz lançado ao infinito ou a de um brado solto em campo distante”. Esse raio de luz foi lançado e tem conteúdo. O brado foi dado e tem força. E que haja ouvidos. E que haja lentes.

08/01/2013
Paulo Camelo
Enviado por Paulo Camelo em 02/01/2015


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